
Um maestro tenta reger uma orquestra repleta de músicos desinteressados, prepotentes e que só vão fazer aquilo que seu sindicato autorizar. Quando o maestro perde a paciência e exige um pouco mais deles, começa uma revolução. Com essa ideia, “Ensaio de Orquestra” (1978) discorre sobre o papel da música no mundo contemporâneo e, seguindo a marca do diretor Federico Fellini, traça um paralelo com sua visão sobre o próprio processo artístico.
A história começa quando uma equipe de reportagem (ou pelo menos é o que se assume) invade o espaço da orquestra a fim de acompanhar o ensaio. Para um filme de 1978 é estranho ver os personagens falando diretamente para a câmera, como se estivessem sendo entrevistados. Essa técnica, conhecida como mocumental (de falso documentário), se tornou muito popular no cinema de terror após o sucesso do independente “A Bruxa de Blair” (1999), e, apesar de Fellini não estar inventando esta maneira de filmar, há de se reconhecer, no mínimo, seu pioneirismo. E é com ela, para surpresa de muitos, que o italiano decide fazer rir. Sim, “Ensaio de Orquestra” é uma comédia.
Seja na evidente falta de compromisso dos músicos ou na demasiada atenção que estes dão a seus instrumentos, a graça de Prova D’orchestra reside nos tipos cotidianos e a câmera “amadora” de Fellini só potencializa este humor.
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O personagem do maestro, por si só, é um show a parte. Hilário quando vocifera contra sua própria orquestra e dramático quando explica a decadência da música como arte, o ator polonês Balduin Baas lidera o filme com a mesma desenvoltura que seu personagem diz ter com a batuta.
E o maestro é só um dos artifícios de Fellini para fazer o que faz melhor: falar sobre si mesmo. Usando a orquestra como metáfora para o cinema, o diretor critica a interferência dos sindicatos no processo cinematográfico e tenta passar, se colocando no papel do maestro, a dificuldade de criar arte a partir de um grupo tão heterogêneo quanto a orquestra do filme.
Genuinamente engraçado, com uma grande trilha sonora de Nino Rotta e mais sutil do que trabalhos mais conhecidos do gênio neo-realista, “Ensaio de Orquestra” é um dos trabalhos mais interessantes de Fellini e, não fosse pelo rudimentar sistema de captação de som do cinema italiano – que obriga uma dublagem vagabunda ao filme – seria um prazer ouvir e reouvir este ensaio.

Texto elaborado por Stefano P., jornalista de formação, roteirista e cineasta amador.
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